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Imagem: garloon, de envatoelements

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26/01/2021

Venho acompanhando, vivenciando e pesquisando nestes últimos 30 anos a riqueza de propostas e possibilidades de mesclar espaços, atividades, tempos com presença física e digital, de forma síncrona e assíncrona. Nos últimos anos e, especialmente, neste longo período de confinamento por conta da pandemia, avançamos muito na percepção e experimentação de que podemos ensinar e aprender de forma muito mais flexível, personalizada, humanizada e colaborativa, combinando e integrando diversos espaços, tempos, metodologias e maneiras de avaliar. Apesar das muitas contradições, carências e profunda desigualdade econômica, tecnológica e educacional, está havendo um crescimento consistente de projetos pedagógicos interessantes, flexíveis, ativos, com foco no desenvolvimento de competências e valores.

Percebemos que muitas das atividades que imaginávamos que só seriam viáveis no presencial (como a aprendizagem por projetos, em times) podem ser realizadas com bastante qualidade no online, principalmente com crianças maiores, jovens e adultos. A separação entre espaços físicos presenciais e digitais será cada vez menor, assim como acontece com as outras áreas da nossa vida e há um crescente consenso de que veremos, a partir de agora, muitas propostas diferentes de ensinar e de aprender, mais personalizadas e participativas, de acordo com a situação, necessidades e possibilidades de cada aprendiz.

Educação ativa híbrida
O ensino híbrido é uma modalidade pedagógica que mistura possibilidades de combinar atividades em sala de aula com atividades em espaços digitais para oferecer as melhores experiências de aprendizagem a cada estudante. No ensino híbrido o foco está mais na ação dos docentes. O conceito de educação híbrida é mais abrangente, porque olha para as combinações possíveis de todos os envolvidos no processo de ensino e de aprendizagem (visão ecossistêmica do híbrido).

Na educação acontecem vários tipos de mistura: de saberes e valores, quando integramos várias áreas de conhecimento (no modelo disciplinar ou não); e de metodologias, com desafios, atividades, projetos, games, grupais e individuais, colaborativos e personalizados. Também falamos de tecnologias híbridas, cada vez mais “inteligentes”, que integram as atividades da sala de aula com as digitais, as presenciais com as virtuais.

Híbrido também pode sinalizar um currículo mais flexível, que planeje o que é básico e fundamental para todos e que permita, ao mesmo tempo, caminhos personalizados para atender às necessidades de cada aluno. O híbrido também abrange a articulação de processos mais formais de ensino e aprendizagem com os informais, de educação aberta e em rede. Híbrido implica em misturar e integrar áreas diferentes, profissionais diferentes e alunos diferentes, em espaços e tempos diferentes.

Mesclar e flexibilizar são conceitos-chave para dar conta dos desafios atuais: podemos sair de propostas fechadas para outras mais abertas, os tempos iguais para os tempos combinados, os itinerários iguais para os personalizados e também intensamente participativos, dentro de espaços escolares, de espaços digitais e espaços profissionais. O híbrido implica em repensar o currículo rígido, as metodologias ativas, a adaptação e diversificação dos espaços, o uso intensivo de tecnologias digitais e a melhoria da avaliação.

Estamos começando a sair do modelo mental de identificar aprendizagem com um professor e 40 alunos em uma sala presencial. O ideal é o equilíbrio entre a personalização (mais escolhas do aluno, mais autonomia) com a aprendizagem colaborativa (aprendizagem ativa, entre pares, por projetos), a tutoria/mentoria, avaliação formativa, oferecendo as melhores condições de aprendizagem em tempo real (sala de aula, plataformas online, espaços profissionais) e de forma assíncrona (com itinerários e atividades mais individualizados).

Esse conceito do híbrido evoluiu bastante nos últimos tempos pela expertise adquirida com a mudança forçada para o digital. Aumentou a consciência de que as misturas podem ser muito mais amplas: espaços, tempos, metodologias ativas, formas de avaliar. Não faz muito sentido dar aulas expositivas nos encontros presenciais do modelo híbrido, pois a parte expositiva pode ser planejada melhor no online (onde cada um acessa os materiais no seu tempo e quantas vezes quiser).

Podemos também no espaço digital estimular a pesquisa, desenvolver projetos de forma assíncrona e síncrona, discutir casos, compartilhar experiências. Muitas das atividades que imaginávamos que só seriam viáveis no presencial podem ser realizadas com bastante qualidade no online, principalmente com crianças maiores, jovens e adultos.

Mas o presencial ainda é insuperável para um contato mais amplo, para práticas mais reais e engajadoras, para áreas de criação coletiva como teatro, dança e principalmente para desenvolver vínculos. Mesmo elas podem ser integradas e combinadas com experimentações em ambientes virtuais imersivos. O avanço e domínio das tecnologias neste período longo de ida para o digital nos fez experimentar possibilidades que antes pareciam pouco relevantes.

Os modelos híbridos se combinam, se integram e ganham relevância com o foco na aprendizagem ativa dos estudantes. As metodologias ativas envolvem um percurso metodológico que possibilita a ação do estudante envolvendo-o na aprendizagem por descoberta, por investigação, por resolução de problemas e por projetos. As metodologias ativas procuram criar situações de aprendizagem nas quais os aprendizes possam fazer coisas, pensar e conceituar o que fazem, construir conhecimentos sobre os conteúdos envolvidos nas atividades, bem como desenvolver a capacidade crítica, refletir sobre as práticas que realizam, fornecer e receber feedback, aprender a interagir com colegas e professor, e explorar atitudes e valores pessoais.

Os modelos híbridos favorecem uma combinação ideal entre personalização, colaboração e tutoria/mentoria. Uma parte do percurso pode ser feita pelo estudante, dentro do seu ritmo e circunstâncias, o que implica em calibrar e acompanhar essas atividades para que todos se envolvam e cheguem onde professores e escolas planejaram. Outra parte do percurso é feita em grupos e classes, é mais colaborativo e supervisionado diretamente pelos docentes. Este percurso tanto pode acontecer na sala de aula física, na digital ou em ambos os espaços simultaneamente ou de forma assíncrona. O percurso se completa por meio da mediação, tutoria e mentoria do docente, com alguém que faz grandes perguntas, orienta e ajuda a tornar visível a aprendizagem e o desenvolvimento de competências no percurso.

Um dos benefícios é a possibilidade do docente dedicar mais tempo às dúvidas e ao acompanhamento mais próximo e individual dos alunos na aprendizagem. Com o apoio da tecnologia, o professor também consegue visualizar, coletar e analisar dados sobre as aprendizagens dos alunos de forma mais simples e precisa.
Isso pressupõe ter uma boa plataforma digital com inteligência para fornecer análises de dados relevantes e atualizados para docentes, estudantes, gestores e pais. Tudo isto traz uma série de desafios novos para docentes, discentes, para as escolas e famílias.

Modelos híbridos integrados na educação básica
Na educação básica os modelos continuarão sendo de maior predominância do encontro em espaços comuns (salas de aula enriquecidas com tecnologias) com diversas formas de integração entre o presencial e o digital, que vem sendo testadas principalmente a partir das publicações do Horn & Staker, 20151: aula invertida, rotação por estações, rotação individual. e que incluirão alguns modelos mais personalizados e online, como os modelos flex (roteiros personalizados online com o professor por perto), a la carte (fazer um, ou mais módulos online) ou virtual enriquecido (parte presencial, parte online). A hibridização será progressiva, de acordo com a idade e o avanço do estudante no currículo.

A educação híbrida ativa traz importantes benefícios e desafios para os estudantes, porque eles têm acesso personalizado aos conteúdos, materiais, pesquisas e desafios a qualquer hora, por qualquer aparelho e no ritmo desejado. Desenvolvem também maior autonomia pela possibilidade de escolher percursos mais adaptados às suas necessidades e expectativas. Ao mesmo tempo desenvolvem as competências comunicacionais e avaliativas pela riqueza e diversidade de atividades e projetos com diferentes grupos dentro e fora do espaço escolar, nos espaços presenciais e digitais, em momentos síncronos e assíncronos.

Pesquisadores como Borup e Walters confirmam a visão positiva dos estudantes do ensino médio sobre os modelos híbridos em que puderam interagir e aprender com seus colegas no ambiente virtual. Um dos benefícios relatados pelos estudantes é o apoio entre eles mesmos para compreender melhor o material e realizar as atividades, antes de falar com o professor. Outro benefício foi a motivação dos estudantes por meio do incentivo mútuo, dando-se apoio e confiança para que os que se sentiam inseguros, o que os levava a aprimorar seus trabalhos antes de apresentá-los aos demais colegas e ao professor(4).

Uma outra vantagem relatada pelos estudantes é a colaboração entre os pares, ajudando-se no desenvolvimento de projetos, em modelos mais complexos como o virtual aprimorado ou o flex, que exigem maior participação em todos os momentos, tanto nos de autoestudo como nos momentos presenciais.

Desafios para os professores
O ensino híbrido traz alguns desafios para os docentes. Os papéis se ampliam e modificam bastante, porque todo o processo de ensinar e de aprender é mais flexível e está mais centrado nos estudantes. Os professores concentram sua energia no desenho de atividades significativas, (designers) para o desenvolvimento de competências; na curadoria de materiais significativos; na tutoria e acompanhamento individual, dos diferentes grupos e da classe nos espaços presenciais e digitais, síncronos e assíncronos e na ampliação das formas de avaliação dos estudantes. Esse planejamento é mais complexo se vários docentes desenham, acompanham e avaliam, juntos, projetos e atividades integradores de diversas áreas de conhecimento (projetos STEAM, por exemplo). Outro papel docente que ganha cada vez mais relevância é o de mentor de projetos pessoais, profissionais e de vida dos estudantes.

Muitos docentes também não se encontram em condições profissionais ideais para planejar e desenvolver modelos híbridos interessantes: trabalham em mais de uma escola ou sistema de ensino, dão muitas classes, tem muitos alunos e isso dificulta sobremaneira a realização de um bom trabalho. Sem condições objetivas, é heroico pedir que os docentes sejam inovadores.

Os modelos híbridos precisam ser planejados levando em consideração a diversidade de condições de acesso muito diferentes de cada estudante fora da escola. Em muitas instituições educacionais, os docentes precisam planejar atividades para os que têm acesso regular ao digital, para os que têm acesso parcial e para os que dificilmente têm ou não têm acesso ao digital. Isto implica desenhar, a partir do conhecimento da situação de cada estudante, roteiros que mantenham o essencial: a aprendizagem ativa em contextos híbridos diferentes para níveis de acesso diferentes.

O planejamento torna-se mais complexo porque as condições dos estudantes não são iguais, tanto em acesso como em domínio pedagógico e digital. O docente planeja o antes (preparação do estudante, o que cada um consegue avançar), o durante (momentos síncronos: atividades em grupo e com a classe presenciais e/ou digitais síncronas) e o pós (aplicação, conclusão, avaliação), atendendo a diversas possibilidades e realidades. O planejamento é também diversificado, com repertório de estratégias diferentes e também de aplicativos para cada etapa. O planejamento, o desenvolvimento e a avaliação são abertos para poder incorporar e dialogar com as diferenças propostas e situações pessoais, grupais e de classes nos diversos tipos de encontros, plataformas, redes sociais. Os modelos híbridos pressupõem um acesso dos estudantes de lugares diferentes. Isto ainda está longe de ser viável para a maioria, em pouco tempo. São muitos os gargalos econômicos e tecnológicos. Teremos para uma parte da população realmente modelos híbridos com ótimas condições de implementação e para a grande maioria, modelos híbridos deficientes, com pouca interação síncrona e muito mais focados em atividades assíncronas.

Outros desafios do híbrido: mudar a cultura tradicional do docente (transmissor) e do aluno (que obedece) para um modelo ativo mais participativo. É um processo mais complexo, que exige mais tempo e dedicação ao planejamento ativo (online-offline), ao acompanhamento personalizado e à avaliação mais participativa. Outro grande desafio é a precariedade da infraestrutura (acesso, equipamentos) em muitas escolas e residências e a fragilidade no desenvolvimento das competências digitais de uma parte dos docentes, discentes e também das famílias. Essa desigualdade inviabiliza que tenhamos projetos de educação híbrida em larga escola para a maioria dos estudantes, que são pobres e não tem condições objetivas de estudar remotamente em casa. Por enquanto os modelos híbridos contemplam uma parte da população, que tem melhores condições econômicas, acesso tecnológico e domínio digital mais desenvolvidos.

Num período de crise tão prolongada vemos que uma parte das instituições, infelizmente, utilizam o híbrido de uma forma bastante precária e pouco atraente: desenham um modelo básico, muito conteudista, com um número excessivo de alunos para cada professor. E também permitem a entrada de estudantes em qualquer momento do ano letivo, sem o devido acompanhamento e avaliação.
Muitas escolas se encontram em um estágio inicial na utilização dos modelos híbridos e das metodologias ativas: só de forma pontual, isolada, dependendo da iniciativa de alguns docentes e gestores, sem uma discussão mais institucional. Outras escolas avançam de forma um pouco mais articulada, com grupos de docentes desenvolvendo projetos integrados, aula invertida e um maior avanço do uso de plataformas e recursos digitais no presencial e no online. Um terceiro grupo redesenha a escola de forma inovadora, onde o híbrido é pensado para apoiar um currículo que é organizado por projetos e competências, em espaços e tempos flexíveis.

Os modelos ativos híbridos e totalmente online fazem mais sentido quando são organizados com políticas públicas sólidas, coerentes e com visão de longo prazo, (o que não vemos atualmente). Eles fazem mais sentido quando estão planejados institucionalmente e de forma sistêmica, como componentes importantes de reorganização do currículo por competências e projetos, de forma flexível, com diversas combinações de acordo com as necessidades do estudante (personalização), intenso trabalho ativo em equipes, tutoria/mentoria (projeto de vida) com suporte de multiplataformas digitais integradas.

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